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Preço do café dobra em um ano e meio; especialistas preveem normalização apenas em 2026

De repente, um café expresso em qualquer padaria pode custar R$ 10 ou mais. Diante do que parece um despropósito, muitos consumidores começaram a reduzir a quantidade de xícaras diárias. Uma pergunta surge: quando o preço do café vai cair? Especialistas afirmam que, se voltar, será apenas em 2026 e não deve ser ao mesmo patamar de antes.

O preço do grão de café torrado e moído subiu expressivos 98,4% em apenas um ano e meio. Dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) mostram que essa variação acumulada começou em janeiro de 2022, em um período marcado por 17 altas consecutivas. Somente em maio deste ano, os preços aumentaram 4,6%. Como consequência, o consumo de café caiu. De acordo com a Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café), as compras do produto recuaram 16% em abril, na comparação com o mesmo mês do ano passado, e registraram uma retração de 5% nos primeiros quatro meses de 2023.

A principal causa da alta dos preços foi a oferta reduzida do grão. Vanusia Nogueira, diretora-executiva da OIC (Organização Internacional do Café), explica que o cenário é resultado de uma “tempestade perfeita” formada por fatores climáticos e geopolíticos. “Irregularidades climáticas em regiões produtoras-chave, como secas prolongadas ou chuvas intensas no período de florada, limitaram a oferta. Do lado logístico, apesar de algumas melhorias, ainda enfrentamos atrasos no transporte e custos elevados de frete”, afirma Nogueira. Ela também acrescenta que o consumo crescente de mercados como a China, onde a demanda passou de 231 mil sacas de 60 kg em 2002 para 2,8 milhões em 2022, intensifica o desequilíbrio entre oferta e demanda.

Para Nogueira, a expectativa de uma queda nos preços do café depende das condições climáticas e das próximas safras. “Correções pontuais são possíveis nos próximos meses, mas um retorno aos níveis historicamente normais pode não acontecer antes de 2026 — se acontecer”, afirma. Brasil e Vietnã, os dois maiores produtores mundiais, concentram as esperanças do mercado. “Se o clima colaborar e as condições logísticas continuarem melhorando, podemos ver uma redução gradual”, diz ela.

Apesar da expectativa de uma possível queda nos preços, especialistas avaliam que o “normal” para o café pode nunca ser o mesmo. O novo patamar do preço reflete os custos estruturais elevados em toda a cadeia de produção, que incluem demandas rigorosas de rastreabilidade, certificações, práticas sustentáveis e adaptação às mudanças climáticas. “O conceito de preço normal precisa ser atualizado. O novo normal do café deve incorporar esses fatores estruturais e refletir o verdadeiro valor da cadeia”, conclui Nogueira.

As consequências da valorização do café já são observadas na cotação do produto. Em maio deste ano, uma saca de 60 kg foi vendida pelo preço médio de R$ 2.382,57, segundo dados da Cooxupé, uma das maiores cooperativas de café do Brasil, localizada em Guaxupé, Minas Gerais. No mesmo mês de 2022, o valor era R$ 1.186,17 e, em maio de 2021, estava em R$ 811,06. Isso significa que o preço mais do que dobrou nos últimos 12 meses.

Produtores e comerciantes estão sentindo os impactos dessa conjuntura. Em Franca, São Paulo, Bruna Malta, produtora rural e proprietária da cafeteria Olinto junto com o marido, José Tadeu Oliveira, resume o momento com um misto de otimismo e preocupação. “Seria ótimo aproveitar esses preços altos, mas não há café para vender. Quem conseguiu colher e estocar está se dando bem. A maioria não teve essa sorte”, afirma Bruna. Ela destaca que a margem de lucro só foi possível porque os custos se mantiveram estáveis enquanto os preços subiram. Esses custos, no entanto, já eram altos antes da escalada recente, especialmente devido ao preço dos fertilizantes. “Tudo depende da florada. Se o clima ajudar agora e em 2026, os preços podem começar a recuar. Até lá, ainda vamos sentir no bolso”, diz.

José Tadeu, por sua vez, explica que houve necessidade de repassar parte da alta para os clientes. “No varejo, subimos mais de 20%. No atacado, entre 10% e 15%. Perdemos alguns clientes por conta disso”, lamenta. Ele também aponta que muitos produtores estão usando o momento para pagar dívidas com bancos, enquanto outros, como ele e a esposa, decidiram investir em melhorias. “Aqui, focamos em infraestrutura, como irrigação e torrefação”, revela.

A valorização do café também trouxe problemas relacionados a segurança. No sul de Minas Gerais, roubos de carga e invasões de propriedades têm se tornado mais frequentes. Bruna Malta conta que foi necessário investir em monitoramento para proteger as plantações e estoques. “Tem um pessoal que vigia a lavoura 24 horas por dia. Tudo isso está sendo feito este ano para a gente evitar grandes dores de cabeça, mas foi um investimento bem alto”, relata.

Com custos elevados, desafios estruturais e uma demanda crescente no mercado global, o café segue marcando presença com preços que impõem novos ajustes para toda a cadeia produtiva e para o consumidor.

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