O desmatamento da Mata Atlântica diminuiu nas áreas contínuas do bioma, mas aumentou em fragmentos isolados e áreas de transição entre 2022 e 2023.
Os dados foram divulgados nesta terça-feira (21) pela Fundação SOS Mata Atlântica, com base no Atlas da Mata Atlântica e no Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD) Mata Atlântica.
“O desmatamento caiu na região contínua da Mata Atlântica, que vai do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte, onde há florestas maduras. No entanto, aumentou nos encraves e nas transições com outros biomas, como o Cerrado e a Caatinga, onde há florestas jovens”, explicou Luís Fernando Guedes Pinto, diretor executivo da SOS Mata Atlântica.
Embora pareçam conflitantes, os dados indicam uma tendência de redução do desmatamento em áreas contínuas e aumento em encraves. A Lei da Mata Atlântica, que protege toda a vegetação nativa do bioma, tem sido contestada e não aplicada rigorosamente nas regiões de transição e encraves.
Dados e impactos
O Atlas da Mata Atlântica, coordenado pela SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), mostrou que o desmatamento no bioma caiu de 20.075 hectares em 2022 para 14.697 hectares em 2023, uma redução de 27%. No entanto, o Atlas monitora áreas superiores a três hectares de florestas maduras, correspondendo a 12,4% da área original do bioma.
A redução do desmatamento foi observada na maioria dos 17 estados da Mata Atlântica, exceto Piauí, Ceará, Mato Grosso do Sul e Pernambuco. Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina destacaram-se com quedas de 57%, 78% e 86%, respectivamente.
Por outro lado, o SAD, parceria entre a SOS Mata Atlântica e o MapBiomas, detectou um aumento total do desmatamento de 74.556 para 81.356 hectares de 2022 para 2023. Este aumento foi predominantemente em encraves no Cerrado e na Caatinga, especialmente na Bahia, no Piauí e em Mato Grosso do Sul, onde houve expansão agrícola.
Consequências Ambientais
A redução da cobertura florestal resulta em mais desastres naturais, epidemias e desigualdade. Para a agricultura, significa também quebras de safra recorrentes. Sem um olhar integrado para todos os biomas, as crises climáticas e de biodiversidade continuarão a se intensificar.
Menos floresta amplifica os impactos das chuvas e diminui a resiliência das áreas afetadas. A restauração do bioma é crucial para a adaptação às mudanças climáticas e para alcançar as metas do Acordo de Paris, que visa limitar o aquecimento global a 1,5 grau até o final do século 21. Plantar florestas é uma das formas mais eficientes e baratas de remover gás carbônico da atmosfera.
Situação no Rio Grande do Sul
No Rio Grande do Sul, onde metade do estado é coberto pela Mata Atlântica, a situação é preocupante. Apenas 10% da Mata Atlântica original permanece. A falta de floresta agrava os efeitos de chuvas intensas e enchentes, como as que ocorreram recentemente.
A proteção das florestas é essencial para aumentar a capacidade de resiliência das áreas afetadas, minimizando os impactos e facilitando a recuperação após eventos climáticos extremos.