O Relatório Anual do Desmatamento (RAD) do MapBiomas, divulgado nesta terça-feira (28), revela que mais da metade de toda a área desmatada no Brasil em 2023 está localizada no Cerrado.
Pela primeira vez desde 2019, o Cerrado ultrapassou a Amazônia em termos de área desmatada, quase todo o desmatamento do país nos últimos cinco anos teve a expansão agropecuária como vetor, destacou o relatório.
Nos últimos cinco anos, o Brasil perdeu 8.558.237 hectares de vegetação nativa, o equivalente a duas vezes o estado do Rio de Janeiro. No entanto, em 2023, houve uma queda de 11,6% na área desmatada: ao todo, 1.829.597 hectares de vegetação nativa foram suprimidos em 2023, em comparação com 2.069.695 hectares em 2022. Essa redução ocorreu apesar de um aumento de 8,7% no número de alertas.
O levantamento ressalta que os dados apontam a primeira queda do desmatamento no Brasil desde 2019. Por outro lado, destaca que a cara do desmatamento está mudando, concentrando-se nos biomas onde predominam formações savânicas e campestres, e diminuindo nas formações florestais.
Em 2023, 61% da área desmatada em todo o país estava no Cerrado, enquanto 25% estava na Amazônia. Com exceção do Piauí, São Paulo e Paraná, todos os outros estados que concentram o Cerrado registraram aumento do desmatamento em 2023 na comparação com 2022. No Maranhão, Tocantins, Goiás, Pará e Distrito Federal, a área desmatada mais do que dobrou.
A coordenadora do MapBiomas Cerrado, Ane Alencar, ressalta a importância estratégica do bioma e expressa preocupação com o aumento do desmatamento, especialmente devido ao impacto na questão hídrica. A média de área desmatada por dia no país em 2023 foi de 5.013 hectares, com mais da metade no Cerrado. O dia com maior área desmatada em todo o país foi 15 de fevereiro, quando uma área equivalente a quase seis mil campos de futebol foi desmatada em apenas 24 horas.
O Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) ultrapassou a área desmatada nos estados da Amazônia e respondeu por quase metade de toda a perda de vegetação nativa no país no ano passado. Três em cada quatro hectares desmatados no Cerrado em 2023 foram no Matopiba.
O relatório também destaca a preocupação com áreas protegidas, como terras indígenas e unidades de conservação. Apesar da redução do desmatamento em algumas áreas, a maioria dos alertas de desmatamento ocorreu em áreas privadas registradas no Cadastro Ambiental Rural.
O aumento do desmatamento no Cerrado parece ser resultado de uma percepção de que tudo pode ser legalizável no bioma. A clara identificação do que é legal e ilegal é essencial para a eficácia das ações de fiscalização e controle.
A liderança do Cerrado em área de desmatamento em 2023 se reflete em outros indicadores, como o maior alerta de desmatamento do Brasil e a maior velocidade média diária de desmatamento detectada no bioma. É crucial adotar uma abordagem multifacetada para combater o desmatamento, incluindo ações de fiscalização, incentivos para o melhor aproveitamento das áreas já desmatadas e desestímulo à abertura de novas áreas.
O aumento alarmante do desmatamento no Cerrado destaca a urgência de medidas eficazes para preservar esse bioma essencial para o equilíbrio ambiental do país.