Brasilia, 25/07/2024. Comovente, foi o evento desse dia histórico, em Brasília, que eu, Kazuco Akamine, tive o privilégio de participar. Uma delegação de 200 nipo-brasileiros esteve no ministério citado, onde a ministra Eneá Stutz Almeida declarou o reconhecimento, pedido de desculpas e retratação, pelas atrocidades cometidas aos imigrantes japoneses, residentes em Santos, no dia 08/07/1943.
As autoridades brasileiras pensaram que os japoneses poderiam enviar sinais para os submarinos do Japão, e todos tiveram que deixar suas casas e patrimônios, em menos de 24 horas. Os homens que foram trabalhar, ao retornar, não encontraram seus familiares e pertences, pois já haviam sido saqueados pelos soldados e vândalos.
Bebês recém-nascidos, grávidas, idosos, todos, sem exceção, foram enviados de trem, com poucos pertences nos braços, para a Casa do Imigrante, em São Paulo. Dos homens que retornaram e nada encontraram, 172 foram encaminhados para o Presídio Correcional Anchieta, e, nessa ilha, permaneceram, recebendo torturas. Tinham que pisotear a fotografia do Imperador e a bandeira do Japão, e, como não o faziam, dorsos nus eram chicoteados… Alguns, de saúde debilitada, pereceram.
O espaço reservado, na Casa do Imigrante, era exíguo: 3 m2 para cada família, dormindo no chão, passando frio e fome!… Muitos, dormiram no trem.
As famílias, geralmente numerosas, sem condições de alugar uma casa, em São Paulo, rumaram ao interior. O avô de uma depoente, (proprietário de 2 caminhões, alguns cavalos e carroças, utilizados no transporte de banana e tabuleiros para as feiras, além de ter sua vitrola, levada por um soldado), perdeu tudo que amealhou em décadas. Ele, com sua família, foi para o interior, mas seu filho, com a esposa, à beira do parto, permaneceram em São Paulo, graças à generosidade de um patrício. No ano anterior, haviam perdido um filho natimorto e era necessário precaver-se. Alugaram um quarto, compartilhando a cozinha da casa.
Pouquíssimos descendentes sabem das ocorrências, pois a dor e a humilhação vividas impediam as vítimas de relembrá-las, pois isso os levava a profundos desgastes emocionais.
Inúmeras foram as tragédias familiares, mas o silêncio imperou.