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Onde a fé vira cuidado e o cuidado vira amor de mãe

Aos 75 anos, Zulmira Andreatta Creplive carrega no olhar sereno e nas mãos que não param o dom de ser mãe para além dos laços de sangue. Mãe de Carolina, 43 anos, Daniel, 49, e Daniela, 53, ela também se tornou figura materna para sobrinhos, amigos e para toda uma comunidade. Sua missão vai muito além da família: é na fé e no acolhimento que ela encontrou um caminho de amor incondicional.

Moradora do centro de Quatro Barras, Zulmira é um dos nomes mais presentes nas atividades da Paróquia São Sebastião. Ex-coordenadora do movimento das capelinhas, atuante nas festividades religiosas e sempre de avental nas festas da igreja preparando risotos, ela se tornou uma referência silenciosa e afetiva da comunidade católica local.

Onde a fé vira cuidado e o cuidado vira amor de mãe
Fotos: Arquivo pessoal. Dona Zulmira ao lado das amigas da igreja — união fortalecida por anos de convivência, carinho e serviço à comunidade.

“Nasci em família católica, mas com filhos pequenos, acabei me afastando um pouco da igreja”, conta. Durante anos, a rotina apertada não permitia envolvimento direto com a vida comunitária. Além de cuidar dos três filhos, Zulmira também assumiu a criação de três sobrinhos após a separação dos pais deles. “Eles não quiseram ficar com a mãe, acabaram ficando comigo. Já eram adolescentes, o mais velho devia ter uns 16 anos, o do meio 14 e o mais novo entre 10 e 12 anos.”

Além das crianças, o cunhado também foi morar junto dela. “Minha casa era cheia, era movimento o tempo todo. Tinha criança, escola, comida pra preparar, roupa pra lavar, tudo misturado.”

Com o passar dos anos, e com todos os filhos — biológicos e do coração — já adultos e encaminhados, Zulmira reencontrou na igreja um novo propósito. Assumiu a coordenação das capelinhas, passou a organizar novenas, missas e eventos religiosos, e tornou-se presença constante na vida da comunidade. Na cozinha, era indispensável: preparava os tradicionais risotos das festas, servia com generosidade e ajudava a deixar tudo em ordem, sempre com um sorriso no rosto e uma palavra acolhedora. Seu jeito materno, atento aos detalhes, fez dela uma referência — uma verdadeira mãe da comunidade.

Onde a fé vira cuidado e o cuidado vira amor de mãe
Foto: Arquivo pessoal. Na foto, dona Zulmira aparece cercada por filhos, netos e pessoas queridas, em um daqueles preciosos momentos em que a família inteira se reúne.

Um dos momentos mais marcantes de sua vida aconteceu justamente com um desses sobrinhos. Após anos morando com o pai, o rapaz descobriu um câncer na boca. “Ele teve que operar. Fui ao hospital no dia da alta, porque o pai era caminhoneiro e estava na estrada. A mãe dele me pediu pra falar com ele, que queria cuidar dele em casa, mas eles tinham se desentendido no passado. Quando falei com ele, ele disse: ‘Eu só vou pra casa dela se você não me quiser’. Como que eu ia dizer não com ele naquela situação? Trouxe ele pra minha casa.”

Zulmira cuidou dele com carinho até sua plena recuperação. Mas a vida trouxe outro golpe: pouco tempo depois, ele sofreu um acidente trágico e faleceu. “Foi uma dor imensa. Porque ali não era mais um sobrinho, era um filho. E eu tinha feito de tudo pra ele se reconciliar com a mãe, mas ele escolheu voltar pra minha casa.”

Para Zulmira, ser mãe vai muito além do biológico. “Ser mãe é estar pronta pra tudo. Na dor, no choro, na briga, no banho, na hora de não querer dormir… A mãe tem que estar lá.” Mesmo sem se reconhecer como uma figura materna tão especial, ela se tornou referência. “Faço tudo com o coração, sem esperar reconhecimento.”

Para ela, a base de tudo é a fé. “Se você não tiver um Deus em quem acredita, não tem suporte na vida. A fé é o que te sustenta. Te dá força pra enfrentar qualquer coisa.” Os joelhos já não acompanham o ritmo de antes, mas ela sorri com serenidade e completa: “Hoje, dobro os joelhos com o coração.”

Devota de Nossa Senhora — em todos os seus títulos — e romeira fiel do Bom Jesus de Iguapê, Zulmira se mostra uma mãe participativa da romaria anualmente. “A gente fica dez dias por lá, participa de toda a novena e das festividades. Faz parte da nossa fé.”

Nos finais de semana, a casa de Zulmira se transforma em ponto de encontro. “É mesa farta, crianças correndo, conversas cruzadas e muitas memórias sendo criadas. Chega a ter 15, 16, 17 pessoas em volta da mesa. É aquela bagunça gostosa. É a casa da mãe, da mãe que acolhe”.

Neste Dia das Mães, sua mensagem é clara, simples e profunda: “Que as mães se inspirem em Maria. Maria estava aos pés da cruz, nunca desanimou. A mãe verdadeira não desiste dos filhos. Ela não os deixa sofrer sozinhos. A mãe ama, acolhe, consola, protege. E isso é o que eu tento fazer com todos que passam pela minha vida”.

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