A estação em que os termômetros costumam registrar as temperaturas mais baixas deverá ser caracterizada por chuvas nos extremos do país e uma sensação gélida que não ocorreu em 2023 e 2024. A neutralidade das águas do Oceano Pacífico ajuda a explicar esse panorama.
Mesmo durante os invernos de 2023 e 2024, muitos brasileiros praticamente não sentiram frio. No entanto, esse cenário parece não se repetir em 2025. A estação deste ano, que começa nesta sexta-feira (20), provavelmente será um pouco mais fria — ainda que as temperaturas possam, em algumas ocasiões, permanecer acima das médias históricas. Entre as razões dessa previsão, estão o comportamento das águas do Oceano Pacífico e outros fenômenos naturais usuais no Brasil durante esta época do ano.
Danielle Ferreira, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (InMet), explica que, no inverno brasileiro, as chuvas geralmente se concentram no noroeste da Região Norte, no leste do Nordeste e na Região Sul. “Com isso, a parte central do Brasil, que inclui o Centro-Oeste, o Sudeste e o sul da região amazônica, enfrenta uma escassez de chuvas durante o inverno e vive um período mais seco”, destaca Ferreira. “Isso ocorre devido à presença de massas de ar seco nessas áreas, que bloqueiam as frentes frias vindas do sul”, complementa ela.
As previsões climatológicas indicam que o inverno de 2025 deve se alinhar com o esperado para este período do ano, em parte devido à neutralidade das águas superficiais do Oceano Pacífico. “Estamos num momento de neutralidade, sem a atuação do El Niño ou da La Niña”, explica Ferreira. Quando ocorre o El Niño, as águas superficiais próximas à Linha do Equador ficam mais quentes do que o normal em grande parte das Américas. Já com La Niña, acontece o oposto: as temperaturas ficam abaixo da média na região. Esses fenômenos impactam o padrão climático global, incluindo o Brasil.
Nos invernos de 2023 e 2024, o Hemisfério Sul foi influenciado pelo El Niño, o que explica por que quase não fez frio — e até mesmo ondas de calor atingiram algumas regiões brasileiras em determinados dias. Projeções da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos e da Organização Meteorológica Mundial sugerem uma alta probabilidade de que a neutralidade no Oceano Pacífico se mantenha até o início da primavera. “Essa neutralidade significa que não devemos experimentar aquecimentos ou resfriamentos anômalos, com temperaturas dentro do padrão para a época”, detalha Ferreira.
Segundo a especialista do InMet, desde 2008 o Brasil vem enfrentando invernos mais quentes, mas há chances de que 2025 seja uma exceção. “Posso dar até um exemplo de onde estou agora, em Brasília. Fazia dois anos que eu não me agasalhava tanto como nos últimos dias”, comenta a meteorologista. Ela também reforça o impacto das mudanças climáticas no comportamento das estações do ano. “Essa persistência de temperaturas acima da média nos últimos anos tem relação com o aquecimento global”, ressalta Ferreira. “As mudanças climáticas desestabilizam a atmosfera e geram eventos cada vez mais extremos, como ondas de calor, ondas de frio, secas prolongadas ou chuvas intensas em curtos períodos. Isso pode ocorrer associado a fenômenos naturais, como La Niña ou El Niño, que amplificam esses eventos”, conclui.
Quanto às temperaturas gélidas observadas nas últimas semanas em algumas partes do país, elas podem se repetir durante o inverno, segundo Ferreira. “A gente não descarta a ocorrência dessas friagens”, afirma. “As massas de ar frio podem chegar ao Brasil já no outono. Isso eleva a incidência de incursões dessas massas.” Em regiões serranas, essa dinâmica pode aumentar a chance de geadas e até mesmo neve, alerta a especialista.
Porém, é importante separar as previsões climáticas das de tempo. “Utilizamos modelos de previsão com fórmulas matemáticas e modelagem física para mapear sistemas meteorológicos, como frentes frias, baixa e alta pressão”, explica Ferreira. Esses modelos permitem previsões confiáveis de até sete dias. “Já as previsões climáticas dependem de outros elementos, como o comportamento dos oceanos, para identificar tendências para os próximos meses.” Essa abordagem possibilita compreender padrões gerais, como as características previstas para o inverno de 2025, conclui a meteorologista.