Um estudo sobre as escolas de educação infantil e ensino fundamental nas capitais, divulgado nesta quarta-feira (27), revelou que 64% das instituições pesquisadas estão localizadas em áreas onde a temperatura é pelo menos 1 grau Celsius (°C) acima da média da região. Além disso, 37,4% das escolas não possuem áreas verdes, 11,3% estão situadas em favelas e 6,7% encontram-se em áreas de risco de desastres naturais.
A pesquisa, intitulada “O Acesso ao Verde e a Resiliência Climática nas Escolas das Capitais Brasileiras”, promovida pelo Instituto Alana, constatou que 370 mil estudantes distribuídos em 20.635 escolas públicas e privadas estão em áreas de risco climático. Esses alunos podem ter a educação comprometida por eventos como incêndios florestais, tempestades e deslizamentos. “Isso pode significar semanas e semanas sem aula, como a gente viu acontecer lá em Porto Alegre, viu acontecer em outros lugares. No estado de São Paulo também, no litoral, e resulta muitas vezes em abandono escolar, porque quando as crianças ficam muito tempo sem poder frequentar as aulas, elas muitas vezes não voltam”, explica Maria Isabel Barros, especialista em criança e natureza do Instituto Alana.
Segundo os pesquisadores do Mapbiomas, responsáveis pela análise, em 2023 as capitais da Região Norte concentraram os maiores percentuais de escolas em áreas com temperatura acima da média urbana, com destaque para Manaus (97%), Macapá (93%) e Palmas (91,5%). Por outro lado, Belém registrou o menor índice do país, com 33,2% das escolas nessas condições. “A gente também vem assistindo um impacto muito forte das ondas de calor no dia a dia das crianças nas escolas. Então, as crianças não conseguem se concentrar para aprender, e muitas vezes não têm acesso ao recreio, porque está muito, muito quente”, afirmou Maria Isabel, relacionando esse cenário à ausência de áreas verdes nos espaços escolares.
A pesquisa mostrou que apenas 26,6% da área total ocupada pelas escolas analisadas é composta por vegetação. Segundo a especialista, pátios escolares mais arborizados trazem benefícios diretos ao desenvolvimento infantil. “Já tem muitas pesquisas que comprovam que crianças que têm pátios escolares mais verdes, mais naturalizados, desenvolvem um brincar mais ativo. Elas desenvolvem uma sociabilidade mais benéfica, brincam com mais complexidade, enfim, uma série de benefícios para o seu desenvolvimento integral e para a sua saúde”, explicou Maria Isabel. Contudo, a presença dessas áreas nem sempre está associada a um uso intencional que promova resiliência climática e aprendizado.
Para os pesquisadores, soluções baseadas na natureza, como sombras proporcionadas pela vegetação, são alternativas que ajudam na adaptação climática e na mitigação das ondas de calor. “O sombreamento é uma delas, que nos ajudam a mitigar os efeitos das ondas de calor e outros eventos climáticos e a nos adaptar”, acrescentou a especialista.
Outro dado impactante levantado pelo estudo diz respeito à infraestrutura urbana ao redor das escolas. Apenas 1,9% do espaço em um raio de 500 metros das instituições é composto por praças e parques. As capitais da Região Norte obtiveram os piores desempenhos nesse aspecto, com Porto Velho (0,6%) e Macapá (1,2%) apresentando as menores proporções de áreas verdes próximas às escolas.
Com relação às escolas em favelas, as capitais da Região Norte concentram os maiores percentuais. Em Manaus, 53% das escolas infantis e fundamentais estão localizadas em favelas, enquanto em Belém esse número é de 41%. Boa Vista foi a única capital da Região Norte em que não foi identificada nenhuma escola em favelas. No Centro-Oeste, as capitais Goiânia e Campo Grande apresentaram baixos índices, com apenas 1% das escolas nesta situação.
No recorte de instituições em áreas de risco para desastres naturais, as capitais do Nordeste apresentaram os números mais expressivos. Em Salvador, 50% das escolas estão em áreas de risco, e nas cidades de Vitória e Recife o índice é de aproximadamente 25%. Quando esse cenário é analisado sob uma perspectiva racial, constatou-se que 51% das escolas em áreas de risco têm maioria de estudantes negros, enquanto apenas 4,7% têm maioria de estudantes brancos. “Os dados comprovam as desigualdades territoriais, raciais e socioeconômicas que a gente já vem observando na distribuição do verde e também em relação ao risco na cidade de modo geral aqui no Brasil. As escolas reproduzem essas desigualdades que a gente enxerga nesses indicadores”, concluiu Maria Isabel.