No ano passado, a Secretaria do Trabalho promoveu o primeiro mutirão de empregos voltado para pessoas com mais de 50 anos na Agência do Trabalhador de Curitiba. A iniciativa resultou na intermediação de cerca de 500 vagas no mercado formal. O CIEE/PR também observa um crescimento na procura por vagas de estágio entre pessoas com 60 anos ou mais.
Márcia Regina Espinosa, de 62 anos, retornou à carreira na educação enquanto estagiava no Centro Municipal de Educação Infantil Zilda Arns, em Fazenda Rio Grande. Durante os dois anos de estágio, ela foi carinhosamente apelidada de “profe-vovó” pelas crianças com idades entre 2 e 3 anos. Márcia decidiu retomar os estudos aos 58 anos e encontrou no estágio uma oportunidade de reinserção no mercado de trabalho. “Foram experiências maravilhosas, que fizeram muito bem para mim. As crianças me chamavam de profe-vovó, e eu me dava muito bem com as outras professoras, que eram bem mais novas que eu. Eu tinha elas como minhas filhas”, conta Márcia.
Formada no magistério, Márcia já havia trabalhado na educação infantil e foi concursada pela Prefeitura de Curitiba até 2000, quando se mudou para os Estados Unidos com a família. Após retornar à capital dez anos depois, encontrou dificuldades em se reinserir na rede municipal, que passou a exigir ensino superior. Embora tenha feito trabalhos pontuais em escolas e outras funções, dedicou-se por muitos anos à vida doméstica. Voltando à faculdade em 2020, Márcia destaca as oportunidades trazidas pelo estágio: “Fiz todo o curso a distância, online, e ainda paguei a faculdade com o dinheiro do meu estágio. Eu me formo em abril e tenho planos de começar uma pós-graduação. Mas vou começar a prestar concursos, não quero parar tão cedo”.
O movimento de reinserção de pessoas acima dos 50 anos no mercado tem sido incentivado no Paraná por ações da Secretaria de Estado do Trabalho, Qualificação e Renda (SETR). As iniciativas incluem cursos de qualificação, programas como Bora Paraná, Qualifica Paraná e as Carretas do Conhecimento, que oferecem treinamentos profissionalizantes em várias cidades. Entre janeiro e setembro de 2023, o saldo negativo de vagas formais para essa faixa etária no Estado, apontado pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), teve um grande avanço, indo de –6.175 em 2023 para –1.420 no mesmo período em 2024. “A nossa meta agora é passar a ter um saldo positivo na geração de empregos para idosos neste ano no Paraná”, afirma Mauro Moraes, secretário estadual do Trabalho. “Além dos mutirões, vamos oferecer qualificação para que eles possam disputar com os mais jovens as vagas de emprego, inclusive em áreas mais novas, como a de tecnologia”.
Os dados da SETR indicam crescimento de 38% no número de vagas intermediadas pela Rede Sine para pessoas com mais de 50 anos, passando de 8.994 em 2023 para 12.440 em 2024, totalizando 21.434 novas colocações nos dois anos. A secretaria planeja ampliar ainda mais essas oportunidades, promovendo um cenário mais positivo para essa faixa etária.
O CIEE/PR, que busca a inserção de estudantes no mercado por meio de estágios e programas de aprendizagem, registrou 8.738 oportunidades em 2024 e tem como meta um aumento de 10% neste ano. Segundo Ilsis Cristine da Silva, supervisora operacional da instituição, áreas como administração e pedagogia estão entre as mais procuradas por pessoas com mais de 60 anos. Ela destaca ainda o interesse das empresas em contratar pessoas mais velhas, devido à experiência e ao comprometimento. “As próprias empresas têm buscado esse público, ainda como reflexo da pandemia, já que os jovens querem trabalhos home office ou não se interessam por certas atividades. Elas acham vantajoso contratar pessoas mais velhas, porque têm experiência e comprometimento, já que há toda uma questão motivacional por retornarem ao mercado de trabalho.”
Projeções do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), baseadas em dados do Censo 2022 do IBGE, mostram que, até 2027, a população acima de 60 anos deverá superar a proporção de pessoas com menos de 15 anos no Paraná. Essa tendência deve continuar ao longo das próximas décadas, com o número de idosos no Estado sendo o dobro do de jovens em 2046, conforme aponta o Índice de Envelhecimento. O cenário reforça a importância de políticas públicas para a inclusão dessa faixa etária no mercado de trabalho.