No Dia das Mães, algumas histórias não apenas tocam o coração, mas também despertam consciência e respeito. A de Eleandra Camargo, 48 anos, e Gustavo Mariano, 24, é uma delas. Mais do que mãe e filho, eles são parceiros em uma caminhada de espiritualidade, acolhimento e resistência, que encontrou no candomblé um solo fértil para florescer.
Unidos pela fé e pelo amor, eles construíram uma loja de artigos religiosos localizada no Jardim Paulista, em Campina Grande do Sul, onde o atendimento é regido pelo respeito à ancestralidade e pela força da tradição afro-brasileira.
A caminhada espiritual de Gustavo se intensificou em 2024, durante a iniciação de sua mãe no Candomblé. “Aquilo passou um filme na minha cabeça. Lembrei de tudo que a gente viveu: momentos felizes, tristes, apertados, mas sempre juntos.”
Para Gustavo, a religião representa mais do que rituais. É um guia de conduta, um norte para a vida. “Nos torna mais focados, equilibrados. Prezamos pelas atitudes em vida, porque elas refletem antes e depois da passagem.”
Eleandra também trilhou um caminho de descobertas. Antes no universo da umbanda, migrou para o candomblé movida por curiosidade, mas encontrou muito mais. “O orisá nos transborda de sentimentos. Me encontrei na espiritualidade.”
Quando percebeu o envolvimento do filho, sentiu orgulho. “Religião é escolha. E o Gustavo escolheu por amor ao orisá, com muita dedicação. Isso me emocionou.”
A fé compartilhada estreitou ainda mais o vínculo entre os dois. “Sempre fomos muito unidos, mas a religião nos ensinou a respeitar ainda mais o espaço de cada um”, diz Eleandra. Gustavo reforça: “Minha mãe virou a chave na minha vida. Me salvou de coisas que talvez eu nem estivesse aqui para contar”.
A ideia da loja surgiu do sonho de Gustavo de trabalhar com aquilo que ama. Em um bairro onde não havia nenhum comércio voltado à religião afro-brasileira, ele decidiu abrir as portas “na cara e na coragem”, enfrentando o preconceito com coragem e axé. A loja, hoje, é mais do que um ponto comercial: é extensão do terreiro, um espaço de acolhimento, escuta e fortalecimento espiritual.
Dividem as funções com leveza e respeito. Enquanto Gustavo cuida das demandas de atendimento e gestão, Eleandra oferece a sabedoria da experiência, com escuta ativa e orientação aos clientes. “Nosso amor é incondicional. Estamos juntos pra tudo”, define Eleandra.
Para ela, o maior aprendizado que leva do terreiro para a vida de mãe é o orgulho. “O amor que o Gustavo tem pelo seu orisá é emocionante. A responsabilidade que ele carrega dentro do axé não se mede.”
Gustavo retribui com gratidão. “O maior presente que minha mãe me deu foi a vida. A saúde pela qual ela lutou. Nada material supera isso. Sempre serei grato.”
Entre os ensinamentos que ambos levam para além do terreiro estão o respeito à hierarquia, a dedicação, o amor ao alimento e à coletividade. “No candomblé, o mais velho ensina o mais novo, como pai e mãe fazem com seus filhos. Isso molda nosso caráter”, explica Gustavo.
Neste Dia das Mães, a história de Eleandra e Gustavo é um lembrete de que o amor materno pode ser ainda mais poderoso quando guiado pela espiritualidade e sustentado pela ancestralidade. Que a força dessa relação inspire outras famílias a encontrarem no afeto, no respeito à fé e na coragem de empreender juntas, o verdadeiro sentido do axé.