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Em Campina Grande do Sul quem passa a pé pela rotatória da rua Leonardo Francischelli, com a Avenida Duílio Calderari, no Jardim Paulista, provavelmente já foi abordado por alguém fazendo as seguintes perguntas: “Está precisando de óculos?” , “Já conhece a nossa loja?”, “Vamos fazer exame de vista?”. O cruzamento já é conhecido como a “esquina das abordagens” – aos finais de semana essas atividades são ainda mais frequentes tendo em vista que a movimentação do comércio é maior.

A briga pelo mercado se consolida, principalmente entre os promotores desses estabalecimentos – que estão por toda parte. Não é necessário nem óculos para enxergar a quantidade de óticas existentes na região, há pelo menos uma em cada quadra do bairro. Há locais em que a concorrência é acirrada e os estabelecimentos ficam praticamente de frente um para o outro. Com tanta oferta, não basta apenas o consumidor notá-las, é necessário também disputar a atenção de cada cliente.

É nesse momento que entra em cena os promotores, também chamados de “street” – que traduzindo do inglês significa “rua”. Esses profissionais trabalham abordando o público e são responsáveis pela divulgação dos produtos e serviços das óticas da região. A disputa pela clientela é feita de diferentes formas, desde uma abordagem casual “bom dia!”, “boa tarde!”, até situações em que os clientes são quase puxados pelo braço.

Consumidores relatam abusos e registram denúncias

Em meio à toda essa disputa por espaço o que não faltam são reclamações e relatos de abusos por parte dos clientes. Uma das principais reclamações é a prática da chamada “venda casada” – relação comercial que força o consumidor a adquirir dois produtos em uma só compra. Nesse processo comercial algumasóticas estariam condicionando vendas de óculos e lentes de contato à consultas médicas mais “baratas” que o preço médio praticado na rede privada, ou até mesmo de graça.

“Foi uma confusão que registraram até Boletim de Ocorrência contra a ótica”

Denúncias já chegaram, inclusive, ao conhecimento do Poder Público local. Nelas, há relatos de consumidores que se sentiram constrangidos ao se recusarem, por exemplo, a comprar óculos no mesmo dia da consulta médica facilitada pelo estabelecimento. Houve casos em que o cliente recebeu a informação que só poderia deixar o estabelecimento depois que efetivasse a compra casada. Em outras situações, aconsulta médica, que inicialmente era gratuita, teve que ser paga pelo consumidor, quando este desistiu de efetivar a compra.

Segundo o Código de Defesa do Consumidor (CDC), no Art. 39 – que trata sobre o fornecimento de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas – está “proibido condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos”. A redação foi dada pela Lei Nº 8.884, de 11/6/1994.

Campina Grande do Sul não conta com uma legislação específica que trate das formas que esses estabelecimentos desenvolvem suas relações comerciais, a fiscalização nesses casos fica a cargo do setor de fiscalização. A Prefeitura Municipal dispõe de um canal de denúncia na Ouvidoria que pode ser feita de forma presencial, online ou em últimos casos por telefone.

COMERCIANTES E ÓTICAS CONCORRENTES RECLAMAM

Mas as reclamações não se limitam apenas aos clientes. As óticas concorrentes e o comércio ao entorno também relatam abusos praticados. Uma vendedora de uma loja da região, sob condição de anonimato, disse que já presenciou uma confusão entre um dos promotores e uma idosa, em que a situação virou até caso de polícia. “A senhora disse que não queria óculos, o rapaz insistiu, e ela então sem muita paciência deve ter falado algo pra ele. Em resposta o rapaz chamou a idosa de velha cega. O filho dela ficou sabendo do xingamento e veio aqui querer brigar com o promotor. Foi uma confusão que registraram até Boletim de Ocorrência contra a ótica que o rapaz trabalhava”, conta.

Uma das promotoras de ótica, que também manteremos o anonimato, disse que já foi ameaçada por “roubar” o cliente dos colegas. “A gente tenta fazer a política da boa vizinhança, mas assim como os demais tenho a função de vender o meu peixe. Outro dia após ter abordado um cliente que outro promotor havia acabado de conversar, ele chegou pra mim e disse que era melhor eu parar. Me senti coagida! Mas é pra isso que existe concorrência, o cliente achou mais vantajoso comprar aqui, então fechamos o negócio”, disse.

Whatsapp Image 2023 01 18 At 11.07.08 Rotatória No Jardim Paulista Vira Ponto De Abordagem Das Óticas
Rotatória Da Rua Leonardo Francischelli, Com A Avenida Duílio Calderari, Virou O Ponto Das Abordagens. Foto: Adilson Santos / Jornal União

“Há situações em que o pedestre chega a ser abordado, uma, duas vezes”

Outra comerciante também reclama. Segundo ela, muitos clientes deixam de passar em frente à sua loja pelo excesso de abordagens. “Há situações em que o pedestre chega a ser abordado, uma, duas vezes. A gente percebe que a pessoa até desiste de passar por aqui porque vê que será abordada de novo por outro vendedor”.

O QUE DIZEM OS PROMOTORES

O Jornal União conversou com alguns promotores que trabalham diretamente com o público nas abordagens. Eles se defendem das reclamações e justificam que sofrem muito preconceito. “Tenho filho e família para sustentar. A maioria das pessoas me conhecem, trato todo mundo com respeito. Não é fácil as pessoas acharem que a gente está sendo chato, inconveniente, mas é nosso trabalho. Não é fácil ficar na nossa condição tomar sol e chuva todos os dias”, justifica um dos promotores.

“Tenho filho e família para sustentar”

Por ser uma função que não exige uma qualificação profissional específica, a profissão de promotor é às vezes a única oportunidade de trabalho. “Comecei com meus 18 anos nessa função e estou até hoje, com 27. Muitos que estão aqui não tem um estudo, um currículo. Mas me orgulho muito, pois tudo eu conquistei na vida foi graças à essa oportunidade que me deram. Gosto do que eu faço, e acredito que é preciso ter respeito de ambas as partes: do comerciante, do cliente e dos concorrentes também”, disse.

“Acredito que é preciso ter respeito de ambas as partes”

A rotina de trabalho de um promotor segue o horário comercial, de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h, além dos sábados. A concretização da venda depende muito do poder de convencimento e do interesse do cliente em adquirir algum produto. ”Tem dias que vendemos pra dois, pra um cliente, e têm aqueles dias que não conseguimos nenhuma venda. Os preços de óculos variam de acordo com o gosto e o bolso de cada cliente. Alguns itens inclui armação simples. Há também a opção de óculos com lentes com tratamento, tecnologia e armação mais sofisticada”, conclui.

EMPREGO

Apesar das reclamações o que não se pode negar é que o setor de óticas emprega vendedores, panfleteiros e locutores. Procuramos a Secretaria de Indústria e Comércio de Campina Grande do Sul na intenção de saber quantas óticas ativas estão cadastradas no sistema da Prefeitura Municipal e quantos empregos o setor emprega, mas até o fechamento desta edição o levantamento oficial ainda não havia sido repassado. Mas estima-se que há pelo menos oito óticas em atividades, só no Jardim Paulista. O número de colaboradores que cada uma emprega varia de um a cinco profissionais, contando com os que atuam na rua.

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