O dia 02 de abril marca o Dia Mundial da Conscientização do Autismo, uma data instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2007 e oficializada no Brasil em 2008 através da Lei 13.652/2018. A data promove a conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), reforçando os direitos das pessoas autistas, e busca reduzir a discriminação. O TEA interfere na comunicação, linguagem e comportamento, sendo uma condição que se manifesta de maneira única em cada indivíduo, variando em suporte necessário de acordo com o caso.
O termo autismo surgiu em 1908, mas foi reconhecido como transtorno do desenvolvimento apenas nas décadas de 1970 e 1980. Com mais informação disponível, os diagnósticos se tornaram mais frequentes, o que intensificou, no Brasil, a demanda por redes de atendimento terapêutico. Nos últimos anos, diversas instituições públicas têm se adaptado a esse aumento no número de diagnósticos, incluindo o Instituto Federal da Paraíba (IFPB).
No IFPB, a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE) coordena ações de inclusão através da Coordenação de Ações Inclusivas (CAI), que promove uma educação acessível e respeita a diversidade. De acordo com o relatório anual da CAI de 2025, o IFPB registra 207 estudantes diagnosticados com TEA, distribuídos entre seus campi. João Pessoa tem o maior número de estudantes autistas, seguido dos campi de Campina Grande, Monteiro, Catolé do Rocha e Picuí. Apenas o campus Areia não relatou estudantes com TEA.
Para assegurar o acolhimento e suporte a esses alunos, o IFPB dispõe de Coordenações Locais de Acessibilidade e Inclusão (CLAIs) em seus campi, que elaboram Planos Educacionais Individualizados (PEIs) adaptados às necessidades dos estudantes. No campus Monteiro, o acolhimento aos estudantes com TEA inicia antes mesmo do período letivo, com visitas domiciliares às famílias para compreender as necessidades específicas. Segundo Luzia Nunes Barreto, coordenadora da CLAI de Monteiro, esse contato é essencial para “estabelecer uma ponte com a equipe multidisciplinar, principalmente audiodescritores e psicopedagogas que vão trabalhar mais de perto”. Neste semestre, Monteiro registra 12 estudantes com TEA.
Luzia relata que o trabalho demanda esforços conjuntos entre a CLAI, o Setor Pedagógico e as coordenações de cursos, especialmente quando o estudante apresenta, além do TEA, deficiência intelectual. Mesmo que nem sempre seja necessário um PEI, adaptações no ambiente e no ensino são promovidas para garantir um maior conforto. “Tem uma aluna que assiste aula de fone, porque a sensibilidade dela é mais auditiva. Nos momentos de crise, ela precisa se retirar”, explicou Luzia.
No campus Monteiro, são realizadas reuniões bimestrais com docentes para avaliar o progresso dos estudantes com TEA. Apesar do trabalho contínuo, Luzia afirma que há grande disponibilidade dos professores em colaborar: “em termos de relatórios e dos PEIs, são bem acessíveis”.
No campus Picuí, ações como oficinas pedagógicas têm contribuído para aumentar a sensibilidade dos professores em relação ao TEA. Segundo Cátia Monteiro Barbosa Maciel, coordenadora da CLAI de Picuí, o relacionamento dos estudantes autistas com seus colegas varia. “Há estudantes com TEA que têm uma interação melhor. Outros já são mais fechados, reservados, e a turma respeita isto”. Em casos mais delicados, a equipe do campus intervém, como ocorreu com um estudante do Ensino Médio Integrado, que ingressou na escola aos 26 anos após passar 10 anos longe do ambiente escolar.
As CLAIs de todos os campi oferecem atendimentos individualizados e horários destinados ao acompanhamento dos estudantes e suas famílias. Algumas situações incluem diagnósticos em aberto, muitas vezes associados ao Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). A sensibilização promovida pela rede de atendimento do IFPB tem ajudado estudantes e famílias a buscarem diagnósticos mais precisos, como relatou Luzia: “Recebi o diagnóstico de TEA no início desse ano. Já tinha a suspeita, e o contato com os alunos me fez dedicar mais atenção ao tema e iniciar a investigação”.
Esses atendimentos ocorrem com base em legislações e iniciativas institucionais que reforçam a inclusão, como a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista e a Cartilha sobre o Espectro Autista, acessíveis no ambiente da PRAE. No campus Campina Grande, destaca-se a criação da primeira sala de autorregulação da Rede Federal, um espaço pensado para atender estudantes neurodivergentes.
A ampliação de ações voltadas ao TEA, como as realizadas pelo IFPB, reforça a importância do Dia Mundial da Conscientização do Autismo para promover uma sociedade mais inclusiva e justa.