O segundo dia do conclave que definirá o sucessor do Papa Francisco teve início com duas rodadas de votação e, novamente, sem consenso. Assim como na noite de quarta-feira, a fumaça preta vista na chaminé da Capela Sistina na manhã desta quinta-feira indicou que os 133 cardeais eleitores ainda não alcançaram um acordo sobre o próximo líder da Igreja Católica.
As votações acontecem diariamente, seguindo um ritmo padrão de quatro rodadas: duas pela manhã e duas à tarde. Apesar disso, as fumaças indicativas só são liberadas duas vezes ao dia, podendo aparecer nos horários de 5h30 ou 7h, e 12h30 ou 14h. Ainda não há previsão de quanto tempo o conclave pode durar.
As sinalizações de fumaça são produzidas queimando-se as cédulas eleitorais em um fogareiro especial dentro da Capela Sistina. Substâncias específicas são adicionadas para gerar as fumaças: naftalina para a preta e lactose para a branca. Desde 2005, um sistema tecnológico modernizado garante maior nitidez nas cores, evitando os equívocos de interpretação que ocorriam no passado.
Na semana passada, o Vaticano informou que dois cardeais eleitores aptos, ambos com menos de 80 anos, não poderiam participar do conclave devido a problemas de saúde. Com isso, o número total de cardeais votantes ficou em 133, incluindo sete brasileiros. Para a escolha do novo Papa, é necessário que 88 votos — ou dois terços — converjam para o mesmo candidato. O italiano é o idioma oficial durante o conclave, mas intérpretes estão à disposição dos cardeais.
Por sorteio, nove cardeais têm funções específicas no processo: três atuam como escrutinadores responsáveis por acompanhar a contagem dos votos, três como “infirmarii”, recolhendo os votos de eleitores acamados, e outros três como revisores, encarregados de garantir a precisão da contagem. Os cardeais utilizam cédulas retangulares com a frase “Eligo in Summum Pontificem” (“Elejo como Sumo Pontífice”), preenchendo à mão o nome de seu candidato, com a caligrafia mais irreconhecível possível. Votos no próprio nome não são permitidos.
A votação ocorre de maneira ritualística: cada cardeal se dirige ao altar, ergue sua cédula para que seja vista por todos e pronuncia o juramento em latim: “Ponho por testemunha a Cristo Senhor, que me julgará, de que dou meu voto a quem, na presença de Deus, acredito que deve ser eleito.” Em seguida, o voto é depositado em um prato e deslizado para dentro da urna, localizada em frente aos escrutinadores. Aqueles que estiverem impossibilitados de se locomover entregam suas cédulas a um escrutinador, que realiza o depósito em seu nome.
Após o depósito de todos os votos, um escrutinador mistura as cédulas na urna, transfere-as para outro recipiente e realiza a contagem inicial. Dois escrutinadores anotam os nomes indicados, enquanto um terceiro lê as cédulas em voz alta, perfurando-as com uma agulha na palavra “Eligo”. Por fim, os revisores verificam a exatidão do processo.
Caso um cardeal atinja os votos necessários, ele é questionado pelo decano a respeito de sua aceitação, com as perguntas: “Aceita sua eleição canônica para Sumo Pontífice?” e “Como deseja ser chamado?”. A confirmação positiva à primeira pergunta o eleva automaticamente à posição de Papa e bispo de Roma. Em seguida, os cardeais expressam seus gestos de respeito e obediência, e o novo Pontífice é anunciado ao público.
Da sacada da Basílica de São Pedro, o cardeal protodiácono declara o icônico “Habemus papam” antes que o novo Papa apareça e conceda a tradicional bênção “urbi et orbi” (“à cidade e ao mundo”).