Pelo menos 327 famílias foram alvo de uma ação de reintegração de posse nesta quinta-feira (20), em uma área privada ocupada por elas há pouco mais de quatro anos no bairro Tatuquara, em Curitiba. A ocupação Britanite foi instalada em um terreno de propriedade da empresa Tatuquara Administração de Bens S/A. A ação contou com a atuação da Polícia Militar (PM), em conjunto com a Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab), Fundação de Ação Social (FAS) e a Comissão de Conflitos Fundiários do Tribunal de Justiça do Paraná.
A empresa proprietária do terreno afirmou que este foi “invadido clandestinamente por um grupo organizado”. Uma liminar da Justiça já havia determinado a reintegração de posse, mas essa decisão foi postergada após o Supremo Tribunal Federal (STF) suspender reintegrações de posse em razão da pandemia de Covid-19.
Dessa vez, a PM informou que nenhuma das famílias foi encontrada no local no momento da desocupação. “A desocupação já tinha sido feita antes da chegada da Polícia Militar. Até então, a operação está bastante pacífica. A previsão é que a operação seja finalizada hoje mesmo”, declarou a capitã Jéssica Simeão.
Rozebel Muniz, que tinha um mercado na ocupação, relatou ter deixado a área antes do cumprimento da ordem judicial: “Eu já tinha tirado muita coisa ali de dentro. Agora, vamos atrás dos nossos direitos. Nós montamos [o mercado] pra ajudar a comunidade, mas não deu.”
Em nota oficial, a empresa enfatizou: “Por determinação do Poder Judiciário do Estado do Paraná, a ação de reintegração de posse será realizada entre os dias 17 e 21 de fevereiro de 2025. Após a efetivação da devolução do terreno aos proprietários legais, a Tatuquara Administração de Bens S/A se compromete a dar continuidade aos projetos urbanísticos dos quais o bairro Tatuquara necessita.”
A Cohab informou que 129 moradores estão recebendo um auxílio-moradia no valor de R$ 800, enquanto outros 19 possuem o pagamento em fase de processamento. Ainda assim, segundo a empresa, 86 desocupados ainda não encaminharam a documentação necessária, 28 não buscaram a Cohab para iniciar o processo e 65 não atendem aos critérios estabelecidos em decreto para o benefício.
“A Cohab concluiu, em setembro de 2024, o cadastramento dos moradores da ocupação Britanite. Desde então, a companhia colocou-se à disposição para receber a documentação de todos os 327 cadastrados, com objetivo de iniciar o pagamento do auxílio-moradia”, afirmou o órgão, em nota.
A vereadora Giorgia Prates (PT), que acompanha o caso desde 2020, defende a necessidade de políticas públicas para a questão habitacional. “Essa é a principal questão. Mas, com a comunidade aqui, tenho feito o trabalho desde o ano passado junto com a Cohab do aluguel-social, uma política paliativa, mas que faz diferença para as famílias. Muitas saíram antes do prazo, mas outras ficaram porque não conseguiram acessar o auxílio. Vamos continuar trabalhando para que elas consigam receber o aluguel-social e não precisem ficar em abrigos”, disse à reportagem.
Os bloqueios de trânsito ocasionados pela operação impactaram pelo menos nove linhas do transporte público e interditaram quatro cruzamentos na região.
📌 Cruzamentos afetados:
– Estr. Delegado Bruno de Almeida X Rua José Zanoncini
– Estr. Delegado Bruno de Almeida X Rua Antônio Gai
– Antônio Zanon X Rua Pres. João Goulart
– Estr. Delegado Bruno de Almeida X Rua Melânia Zeni Visioni
🚌 Linhas de ônibus afetadas:
– 617 – Jd. Ludovica
– 646 – Pompéia/Janaína
– 655 – Jd. da Ordem
– 659 – Caximba/Olaria
– 680 – Rurbana
– 684 – Rio Bonito
– 690 – V. Juliana
– 772 – Tupy/Juliana
– X38 – Rio Bonito (semi-direto)