Nesta terça-feira (22), é celebrado o Dia Mundial do Cérebro, instituído pela Federação Mundial de Neurologia (WFN) em 2014, com o objetivo de conscientizar sobre a saúde cerebral e a prevenção de doenças neurológicas. Identificar sinais precoces emitidos pelo cérebro é essencial para o diagnóstico e tratamento antecipados, especialmente em doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer, que podem evoluir para quadros demenciais. Embora essas condições sejam diagnosticadas com maior frequência após os 65 anos, os primeiros indícios podem surgir anos antes.
— São sinais de alerta, de que algo não está cursando bem. Não significa que seja, mas pode ser um sinal precoce de alteração, de algum quadro demencial — afirma José Maria de Campos Filho, médico neurocirurgião e doutor em neurologia e neurocirurgia.
Entre esses sinais, a alteração de memória é um dos mais comuns. Contudo, ela vai além de esquecimentos cotidianos, comprometendo a performance da pessoa, como deixar de pagar contas, perder-se em trajetos conhecidos ou esquecer o propósito de uma atividade planejada. Outro indício de possíveis problemas é a mudança de comportamento; por exemplo, uma pessoa extrovertida que se torna mais reservada pode estar manifestando um sintoma atípico.
— Existe um quadro que não é uma doença ainda, é uma alteração funcional, que é o transtorno cognitivo leve, que pode surgir antes dos 60 anos e ser um sintoma para a doença de Alzheimer. Este transtorno é aquela pessoa que ainda tem a função dela perfeita, consegue trabalhar, se relacionar com as pessoas, mas ela começa a perceber um declínio desta função. Esse paciente não tem um quadro demencial, mas precisa ficar em observação e controle, porque pode evoluir para o quadro demencial a partir dos 65 anos — destaca Campos Filho.
Embora a alteração de memória seja a manifestação mais frequente de doenças neurodegenerativas, alguns pacientes apresentam sinais atípicos. O médico neurologista e pesquisador Cristiano S. Aguzzoli, do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer), menciona um exemplo: a atrofia cortical posterior, uma degeneração em áreas posteriores do cérebro que afeta visão e percepção espacial.
— Aquele paciente que começa, por exemplo, a ter pequenas batidas no carro, mas nunca teve isso antes, sendo cauteloso em relação ao trânsito, na direção. Isso acontece porque ele está com uma dificuldade de entender o espaço, com alteração de visão, que pode incluir, também, pegar um objeto e acabar derrubando aquele objeto — explica Aguzzoli.
Outros sintomas possíveis incluem escotomas (obstruções na visão) e disfunções executivas, estas últimas caracterizadas por dificuldade de atenção e concentração em tarefas anteriormente simples. Além disso, alterações de linguagem podem ser observadas, como na afasia primária progressiva variante logopênica, que impacta a capacidade de evocar palavras durante o discurso. Segundo Aguzzoli, o discurso desses pacientes é lógico e gramaticalmente correto, mas interrompido e, por vezes, com palavras mal encaixadas.
A probabilidade de uma doença neurodegenerativa aparecer é muito baixa entre pessoas jovens – antes dos 40 anos é raro, e, antes dos 30, muito raro. Contudo, com o avanço da idade, o risco aumenta gradativamente. Para prevenir ou retardar esses quadros, Campos Filho recomenda hábitos saudáveis, como:
— Tem que fazer exercício, evitar exposição a drogas, evitar o abuso de álcool, ter um bom sono, uma regularização do sistema intestinal, descartar doenças. Então, fazer os exames de rotina, controle de colesterol, triglicérides e glicemia. É o que toda avó fala para o netinho: “Ter um cuidado com a saúde”. E, logicamente, se perceber alguma alteração, procurar um serviço de saúde especializado — orienta o neurocirurgião.
Os especialistas ressaltam o papel da família na identificação de sinais de alerta. Como as mudanças surgem gradualmente, muitas pessoas tendem a normalizar os sintomas. Por isso, conversas e incentivos para buscar orientação médica são fundamentais para o diagnóstico precoce de doenças neurodegenerativas.
Um estudo de 2022, publicado pela revista médica britânica The Lancet, identificou 14 fatores de risco associados ao Alzheimer, como: baixo nível educacional, colesterol alto, consumo excessivo de álcool, depressão, diabetes, falta de atividade física, falta de interação social, hipertensão, lesões graves na cabeça, obesidade, perda de audição, perda de visão, poluição do ar e tabagismo.