Uma visita ao Centro de Equoterapia Rancho Dalprá, no bairro Jardim da Colina, em Campina Grande do Sul, é possível entender como um passeio a cavalo pode fazer a diferença na vida de pessoas que convivem com algum tipo de dificuldade motora. São crianças, jovens e adultos que participam das atividades desenvolvidas graças a um convênio com as Prefeituras de Campina Grande do Sul e Quatro Barras, e atendem atualmente cerca de 220 praticantes.
A equoterapia é conhecida como um tratamento multidisciplinar e educacional que utiliza cavalos como forma de desenvolver a coordenação psicomotora de pacientes diagnosticados com doenças genéticas ou qualquer lesão neurológica. Levando em consideração a coordenação motora, a técnica ajuda a estimular o raciocínio dos praticantes e os auxilia a ter maior controle sobre suas dificuldades, melhorando a postura corporal e a interação social.
O Jornal União esteve na terça-feira (20) no Rancho Dalprá e acompanhou de perto como são realizadas as sessões equoterápicas. No mesmo dia, cerca de 15 alunos da APAE de Campina Grande do Sul estavam sendo atendidos. A turma era a segunda do dia. Pela manhã outro grupo de crianças, também da APAE, participaram das mesmas atividades. Ao menos uma vez na semana, os alunos da instituição são levados por um ônibus cedido pela prefeitura até o local.
Mais que um tratamento, a equoterapia chega a ser um momento de lazer para todos que participam, segundo afirma as próprias cuidadoras da APAE que acompanham os alunos durante os passeios a cavalo. O Rancho Dalprá existe há 25 anos, mas iniciou com os tratamentos em 2007, com a missão de promover por meio da aproximação com a cultura equestre novos espaço e significado para o tratamento de pessoas com deficiência ou necessidades especiais.
Nos passeios, o praticante é acompanhado por uma equipe multidisciplinar composta por uma fisioterapeuta, uma psicóloga, um instrutor de equoterapia, além de um guia para o cavalo. Cada sessão dura em média 30 minutos e destina-se à pessoas à partir de 2 anos, sem limite máximo de idade.
Os atendimentos são feitos via Sistema Único de Saúde (SUS), com pacientes que tiveram indicação para praticar a equoterapia. Com base no relatório médico, o paciente então é encaminhado pelas Secretarias Municipais de Saúde, de forma intercalada entre os dois municípios, ao tratamento. Além disso, alunos especiais da rede municipal de ensino também podem participar das atividades.
Para o secretário de Saúde de Campina Grande do Sul, Michel Gil Lopes, a equoterapia representa mais um ganho ao paciente que utiliza o SUS, pois complementa as terapias convencionais. “A equoterapia ofertada por meio da prefeitura acaba sendo uma complementação do tratamento que o paciente com dificuldade motora já realiza pelo sistema público. O conjunto das duas técnicas acelera no tratamento e recuperação, e tem nos mostrado excelentes resultados”, avalia.
Benefícios

O passeio e as atividades com o cavalo oferecem vários benefícios principalmente para a coordenação motora, segundo explica a fisioterapeuta e responsável técnica pelo Rancho Dalprá, Juliane Guimarães. “O cavalo tem o mesmo movimento do ser humano. Quando o nosso cérebro recebe esse estímulo é como se fosse o caminhar humano que é tridimensional. Para o praticante de equotarepia, isso interfere nos ajustes posturais e tônicos, reação de equilíbrio e retificação postural”.
A psicóloga Pamela Monik de Paula, que é outra profissional que ajuda a aplicar as sessões de equoterapia, falou também sobre os benefícios do tratamento. “A equoterapia traz mudanças tanto emocionais, como cognitivas e comportamentais”, conta Pamela. A profissional relembra o caso de uma paciente que ficou tetraplégica após uma árvore cair sobre ela. “A diminuição da ansiedade e aceitação da tetraplegia foram conquistados pela paciente durante as sessões de equoterapia”.
Ainda se tratando do caso da paciente citada por Pamela, na avaliação da fisioterapeuta Juliane Guimarães, houve avanços significativos do ponto de vista da coordenação motora. “Essa paciente chegou pra gente sem controle nenhum sobre seus movimentos, ela não conseguia ficar sentada sobre o cavalo. Precisávamos de mais duas pessoas nos auxiliando para podermos segurá-la. Depois de dois anos conosco, ela consegue se controlar sobre o animal sozinha. O equilíbrio e a coordenação motora dela tiveram uma evolução considerável”, conta.

De acordo com o instrutor e também administrador do local, Rony Dalprá, a atividade não pode ser desenvolvida com qualquer tipo de cavalo, pois segundo ele, os animais têm que atender alguns pré-requisitos. “O cavalo precisa ser treinado e adestrado. Também há necessidade dele ter um movimento tridimensional coerente e regular, senão pode prejudicar o tratamento. Há também exigências com relação ao tamanho do dorso e a altura, já que o cavalo não pode ser muito alto, pois também carrega crianças”, explica.
Serviço
O espaço é aberto à comunidade que deseja conhecer de perto como são desenvolvidas as atividades. O Rancho Dalprá está localizado na Rua Carlos Rodrigues da Cruz, 1495 (estrada do Posto Cupim), próximo ao centro de Campina Grande do Sul. Informações: (41) 99243-0403.