Ele veste o manto vermelho e a barba branca, mas esconde por baixo da fantasia um coração que pulsa no ritmo do rock’n’roll de Elvis Presley e uma fé inabalável no verdadeiro espírito do Natal. Conheça Carlos Amazonas Guimarães Azevedo, o Papai Noel que há décadas transforma a mágica natalina em uma missão pessoal de carinho, acolhimento e mensagens de esperança.
Morador de São José dos Pinhais, Carlos (63) é o astro natalino que encanta crianças e adultos no Colombo Park Shopping. Mas a sua jornada, que começou há 33 anos, é muito mais profunda do que a simples entrega de presentes.
A herança da magia: um Papai Noel de família
A paixão de Carlos pelo papel de Papai Noel é uma doce herança de seus pais. “Meu pai e meu tio, eles eram o Papai Noel da família,” conta Carlos. A tradição começou com a distribuição de presentes para os filhos dos vizinhos, algo que ficou “encrustado” em sua memória de infância.
A inspiração para levar o personagem adiante veio de uma figura lendária da TV, o “Seu Didio” (Didio Queirolo), o Papai Noel do Hermes Macias, a quem ele descreve como “querido, pochegante”.
A estreia de Carlos foi em casa, para sua primeira filha, Camila. Embora a primeira fantasia tenha sido o que ele considera como “muito feia e com um talco no rosto,” o ato o apaixonou, e a dedicação só cresceu. O incentivo final veio de seu pai que disse: “você vai gostar”.
A partir dali, o lazer virou profissão. Carlos foi convidado para trabalhar na Casa do Papai Noel em São José dos Pinhais, uma das atrações natalinas mais conhecidas da região, que recebe milhares de pessoas todos os anos. Ele permaneceu lá por 10 anos e, com a ajuda da esposa que o incentivou a deixar a barba crescer, ele decidiu levar o papel a sério.
“Eu fui estudar. Fui ver os outros Papai Noéis e fui assistir filme do Papai Noel. Eu fiz essa imagem do Papai Noel, de ser um Papai Noel diferente dos outros”.
O consultório da cadeira vermelha: histórias que tocam a alma
Para Carlos, a cadeira do Papai Noel é como um “consultório de psicologia”. É onde ele recebe desabafos e testemunha milagres de Natal que o emocionam profundamente.
Uma das histórias mais marcantes envolve uma menina de cinco anos que não pediu brinquedos, mas sim uma visita do pai, que estava preso. Carlos se sensibilizou e sugeriu: “Vamos fazer uma oração, vamos pedir para o Papai do Céu”.
Dias depois, a menina voltou acompanhada do pai, que havia conseguido uma saída de Natal. O homem, emocionado, abraçou Carlos e agradeceu pelo presente. No entanto, Carlos aproveitou o momento para dar uma leve bronca acompanhada de um conselho direto. “Eu digo, faça por merecer, porque você tem uma filha maravilhosa. E fique reto, eu digo, ó, ande reto agora,” relembrou Carlos, visivelmente tocado pela lembrança.
O pai e o celular
Outra história ilustra como a magia do Natal pode resgatar o valor da família. Carlos observava a cena com atenção: um pai, o “Seu Ari”, acompanhava a esposa e o filho na fila, mas parecia totalmente ausente. Ele exitou em se juntar à foto, imerso na tela do celular, que se recusava a largar. O desespero do menino era cortante e visível, com a criança repetindo, em tom magoado, à mãe: “ele prometeu, mãe, ele prometeu!”.
Vendo o vínculo familiar sendo rompido ali, diante do seu trono, Carlos interveio. Ele levantou-se de sua majestosa cadeira, pediu licença para quem estava na fila e dirigiu-se ao homem. “Seu Ari,” chamou Carlos. Distraído, o homem perguntou: “O senhor tá falando comigo?”. “Sim! Venha tirar uma foto com sua família. Seu filho está pedindo uma foto contigo também,” respondeu Carlos, conduzindo-o para o registro.
Após a foto, Carlos, sem hesitar, tomou o celular da mão do pai e o instruiu com autoridade de Papai Noel. “O senhor vai – agora – descer na praça de alimentação e vai fazer um lanche com a sua família. Vai brincar com o seu filho! Depois, daqui a uma hora, o senhor volta. O seu celular está aqui comigo, bem guardado, ninguém vai mexer.”
O resultado foi transformador. Depois de horas, Ari retornou, sem camisa, molhado, com o filho no ombro, dançando e sorrindo de alegria. “Papai Noel, eu nunca tive um Natal tão lindo. Como é que o senhor sabia que ia ser bonito assim, meu dia?” ele perguntou, abraçando Carlos e chorando.
A mensagem final de Carlos para ele (e para todos) foi enfática: “A presença em família é insubstituível. Nenhum momento especial compensa o tempo roubado pela tela de um celular.”
Papai Noelvis: o marketing de coração
O que muitos não sabem é que o bom velhinho do Park Shopping Colombo tem uma outra paixão: Elvis Presley. Funcionário público municipal em São José dos Pinhais, Carlos, na vida fora do trono, gosta de fazer covers do Rei do Rock. A ideia de unir as duas paixões veio da filha mais nova, Vitória. “Pai, por que você não pega as músicas do Elvis e faz o ‘Papai Noelvis?’. Porque não tem Papai Noel cantor, né? Papai Noel cantando músicas de Natal e do Elvis. Olha, vai ficar bacana. E deu certo”.
Hoje, ele canta canções de Natal e, no meio delas, coloca duas ou três músicas de Elvis, encantando o público com um toque de nostalgia e alegria.
A mensagem de paz
Carlos Amazonas não é apenas um Papai Noel, ele se define como um Papai Noel Cristão, que busca trazer a mensagem do nascimento de Jesus. Ele acredita que o verdadeiro Espírito do Natal é uma coisa “sagrada” que “acontece” se você permitir. Seu maior desejo para o público é: “Espero despertar nelas essa magia, a paz e que essa mensagem de amor, né? De família unida”.
E, se pudesse deixar uma mensagem especial, seria: “A mensagem especial de Natal é que Jesus nos ama. Ele está vivo e que o presente maior que eu trago é essa mensagem. Que nós podemos ser felizes acreditando que nós podemos voltar para casa”.
