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Neste mês de agosto foi comemorado o Dia Mundial da Amamentação. Nossa reportagem conversou sobre o assunto com coordenadora do Centro Cirúrgico Obstétrico (CCO) e alojamento conjunto do Hospital Angelina Caron, Silvanira Fatima de Santi, e com mães que compartilharam suas experiências.

Silvanira Fatima de Santi afirma que a maioria das gestantes não possui a informação correta sobre amamentação. “Por desconhecerem os benefícios, também há falta de interesse delas, assim como dificuldades no uso de próteses, bicos planos ou invertidos, mamoplastia e prematuridade. Esses fatores influenciam para a baixa adesão, porém com acompanhamento e boa orientação, a amamentação pode ser um diferencial na vida da mãe e do bebê”.

Mesmo com esses empecilhos, a enfermeira conta que o Caron é referência no atendimento à gestante de alto risco. “Aqui nascem bebês que, às vezes, possuem contraindicação à amamentação e, mesmo assim, temos uma média de 95% deles amamentados efetivamente na maternidade. Durante o seu internamento, a mãe é  orientada e auxiliamos em todo o processo de amamentação. Após a alta, o hospital fica disponível a qualquer dificuldade e intercorrências que possam interferir na amamentação”. A contraindicação para amamentação só acontece em casos de sorologia positiva para HIV e uso de algumas medicações, conforme orientação do médico obstetra.

Para Silvana, as mães precisam buscar informações de qualidade, como participar de cursos no período gestacional, que possam esclarecer as dúvidas, além de ter contato com outras gestantes, o que cria um clima harmonioso de entendimento nesse período da vida. “Também é recomendável que a mãe não tenha medo de amamentar, deixando o bebê sugar bastante para estimular a liberação do colostro e ingerir muito líquido (água, suco, chá, leite), pelo menos dois litros ao dia”.

Ela lembra que amamentar em posição confortável e em ambiente tranquilo é fundamental. “É preciso ser paciente e ter muita persistência para não desistir. Não é fácil para todas as mães, mas é o melhor alimento para o bebê. Desconsiderar influências negativas é um bom conselho: cada um tem a sua experiência e o seu momento. Também não oferecer mamadeira ou chuquinha, pois o bebê pode não aceitar mais o seio materno depois”.

 

Pela própria dificuldade, ela decidiu ajudar outras mães

A quatrobarrense Thalia Costa de Godoi, de 22 anos, tem três filhos, Enzo, Joaquim e Maria. Com a dificuldade encontrada na amamentação do primeiro filho, ela decidiu estudar mais sobre o assunto e hoje é uma consultora em amamentação, auxiliando, de forma gratuita, outras mães que passaram pela mesma situação. “No início, fui orientada de forma equivocada e meus seios racharam a ponto de sangrar. Na primeira consulta com a pediatra ela me ajudou, me ensinou a posição correta do bebê e o que era a pega correta da aréola e a melhora veio na hora. Me interessei e repito o mesmo processo com as mães que chegam até mim”.

“A maior dificuldade que vejo é a falta de informação sobre o assunto”.

Para Thalia, a amamentação não é abordada de forma séria por todos os profissionais.   “Muitos ainda sustentam a história de leite fraco, o que não é verdade e nem existe. Uma pequena parcela dos bebês que nascem precisam de complemento e esse complemento deve ser dado no copinho ou colher dosadora para que não ocorra a confusão de bico. A maioria dos médicos não explica isso, é aí que vem o combo: mamadeira, chupeta, rejeição do seio e desmame precoce”. Nos atendimento que faz, ela vai até a casa da nova mãe, observa a mamada, vê o posicionamento do bebê e como está pega, para tentar ajudar a mamãe a corrigir e tornar a amamentação um momento mais fácil e sem dor.

“A maior dificuldade que vejo nas mães é a falta de informação sobre o assunto. Os mitos, os bicos artificiais que prometem acalmar o bebê e que, na verdade, só destroem a amamentação, a falta de segurança em si e uma indústria que vem querendo se fortalecer nessa fragilidade”.  Ela amamentou o primeiro filho até os dois anos e nove meses; o segundo até um ano e nove meses e a terceira, de 11 meses, ainda mama.

 

Mãe de três, Ana doou leite materno todas as vezes

Ana Paula Barros Dias, de 37 anos, é mãe do Vitor, de 17 anos, do Lucas, de 12, e do Matheus, de sete anos de idade. Ela passou pela experiência de amamentar todos os filhos e ainda doar leite materno para o banco de leite do Hospital de Clínicas. Mas lembra que todo início de amamentação é difícil. “Não posso dizer que o segundo ficou mais fácil porque não ficou. Todo o início é difícil, muitas vezes não somos orientados quanto à preparação da mama e quando o neném nasce não tem bico. A mãe fica frustrada porque o leite demora a descer, ou quando o bebê começa a pegar no bico, o mesmo racha, sangra, e dói muito, muito mesmo”.

“O vínculo entre mãe e filho não deixa a gente desistir e garanto, é único”.

Para ela, o vínculo com os filhos foi o que não a deixou desistir. “Existe aquele vínculo de mãe e filho que não deixa a gente desistir e garanto, é único. No início o bebê mama até sangue junto, até acontecer a cicatrização do bico. Comigo foi assim, e eu ainda tive a  mastite, que é uma inflamação da mama pelo fato de ter muito leite, que chega até empedrar”. Por este motivo, Ana decidiu fazer a doação de leite materno para as mães que não tinham leite. “Doei leite nas minhas três gestações. O Hospital de Clínicas tem um programa muito bom que te ensina como funciona e como você coleta em casa. Então, somente do primeiro fui ao hospital, dos outros coletava em casa armazenava no congelador e no fim semana a equipe do hospital buscava para levar até o banco de leite”.

Ela lembra que não tem preço que pague a emoção de amamentar. “Posso afirmar que é um dos melhores momentos. Aqueles olhinhos brilhando, olhando pra você, o bebê segura seu peito, segura seu dedo, passa a mão no seu rosto. É emocionante!”.

 

Beatriz sofreu duas vezes o desafio da amamentação

A professora Beatriz Repinoski, de 34 anos, é mãe do Davi, de seis meses. Ela, que desde a gestação sentia o desejo de amamentar, conta que, por duas vezes, sofreu com o desafio, mas não desistiu e pretende amamentar o filho até quando ele decidir parar.

“O primeiro momento desafiador foi logo após o nascimento, quando optei por cesárea, mesmo sabendo que o leite poderia demorar a descer. E foi isso que aconteceu, nos dez primeiro dias não vinha leite. É um momento em que a gente emburrece, esquece que tem Google, livros e pesquisas. Tudo que queremos naquela hora é a opinião de alguém que fez algo que deu certo, e são várias as dicas. Eu fiz tudo e nada do leite descer. A impressão que dá é que o nosso filho está passando fome, é angustiante. Fora o pós-parto, que já é muito difícil. Passamos por várias imposições familiares bem difíceis, isso atrapalhou bastante. Mas, depois de dez dias desceu o leite e junto com ele, vem a dor, a pega errada, a concha de amamentação, bico de silicone, além das madrugadas mordendo toalha com dor e sangramento para amamentar, mas o que adiantou pra mim foram banhos de luz com lâmpada incandescente, só aí eu passei a amamentar sem dor”.

“O valor não é apenas nutricional, é sentimental e supera qualquer coisa”.

Segundo ela, o segundo momento de desafio foi há alguns dias quando ela começou com uma infecção de garganta, teve que ser internada e passar por uma cirurgia de emergência. “Fiquei cinco dias sem poder amamentar, longe do meu bebê. Ele ficou com a avó e com a mamadeira, pensei que quando eu voltasse ele não iria mais querer o peito, mas estava engada porque foi a primeira coisa que ele procurou quando veio no meu colo. Mas aí, temos que lidar com a opinião de muitas pessoas que acham que eu não poderia estar amamentando, mesmo sendo assessorada por uma equipe médica, e vencê-las”.

Beatriz diz que retorna ao trabalho nos próximos dias, mas tem a intensão de manter a amamentação. “É o meu filho quem vai decidir quando não quiser mais o peito. Eu vou amamentar enquanto eu conseguir, pois é um momento único, é uma ligação inexplicável. Respeito todas as mulheres que optaram por não amamentar, mas as que sabem o quanto é bom, vão entender. O valor não é apenas nutricional, é sentimental e supera qualquer coisa”.

 

Três filhos biológicos e dois de leite

A campinense Eleni Vasco, de 52 anos, é mãe biológica de três filhos, duas meninas, de 31 e 24 anos, e um menino, de 15 anos. Mas, além disso, ela tem dois filhos que considera como filhos de leite. “O primeiro foi quando fui ganhar minha filha mais velha no Hospital Paciornik, tinha um menino abandonado pela mãe e as enfermeiras procuravam por alguém que pudesse amamentá-lo. Então eu o amamentei enquanto estive no hospital; chorei por ter que deixá-lo”.

Um ano depois, ela conta que a filha da sua vizinha ganhou bebê, mas como tinha o bico do peito invertido, pediu a Eleni que o amamentasse também. “Eu aceitei e levantava até de madrugada para amamentar. Me senti como uma mãe para essas crianças. Dever comprido, uma vez que sempre fui a favor o aleitamento materno”. Eleni amamentou as duas filhas até os dois anos de idade e o filho até os 3 três anos.

 

 

 

 

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