Antes de se tornar dono de um dos maiores supermercados de Campina Grande do Sul, Antônio Viana, hoje com 51 anos, foi um menino sonhador no interior do Paraná. A veia empreendedora surgiu ainda na infância. Aos quatro anos de idade, em Laranjeiras do Sul, ele protagonizou uma cena que até hoje guarda com carinho na memória: após ver o irmão mais velho, Paulinho, ser repreendido pela mãe, tentou consolar o garoto com uma promessa improvável para a idade.
“Fica tranquilo, Paulinho. Quando eu crescer, vou comprar um caminhão e a gente vai embora pra capital, Curitiba, para trabalhar juntos”, disse ele, com a inocência e a ambição de uma criança que já sonhava grande.
A cena se passou às margens da BR-277, no armazém de secos e molhados mantido por seus pais, José Valdemar Viana, hoje com 83 anos, e Laurita Wendl Viana, de 73. “Eu tinha quatro anos e meu irmão, treze. Enquanto ele chorava, eu já fazia planos pra gente vencer na vida. Sempre tive essa vontade de empreender”, relembra Antônio.
Aquele momento singelo, vivido em meio a prateleiras de mantimentos e o cheiro do interior, foi talvez o primeiro indício de uma trajetória que mais tarde se revelaria marcada por coragem, trabalho incansável e um profundo amor pela família. Antônio não esconde a admiração pelos pais, que foram sua maior inspiração. “Meus pais são um exemplo pra mim. Na educação, no acolhimento, no amor, um exemplo de caráter em tudo. Deram uma educação fantástica pra mim e meus dois irmãos”, destaca.
Foi nesse ambiente simples, mas cheio de valores sólidos, que nasceu o espírito inquieto e sonhador do menino que, mais tarde, transformaria seus planos de infância em realidade.
A família deixou Laranjeiras do Sul rumo a Curitiba no dia 13 de agosto de 1980, marcando o início de um novo capítulo na trajetória de Antônio — que ainda teria muitos sonhos pela frente.
Aos 13 anos, começou a trabalhar como ajudante de verdureiro. Foi nesse caminho que conheceu patrões que o indicaram para o setor supermercadista. Passou por redes como Supermercado Bacacheri e Coletão, onde acumulou experiência até 1998, ano em que o Coletão encerrou suas atividades.
O primeiro mercado
Antes de fundar o Panilar, Antônio chegou a abrir seu primeiro mercado em uma sociedade que, infelizmente, não prosperou. Após essa experiência, retornou ao mercado de trabalho como vendedor na empresa Purina, onde atuou por cerca de um ano, até retomar seus planos de empreender.
Na sequência, passou a trabalhar como gerente no Supermercado Popular, no bairro Menino Deus, em Quatro Barras — um empreendimento do irmão Paulinho, com quem trabalhou por dez anos. Essa experiência ao lado do irmão foi fundamental para amadurecer sua visão sobre gestão e atendimento.
Foi só então que ele decidiu dar um novo passo: abrir o próprio negócio. Com muita economia e a coragem de sempre, comprou um pequeno terreno no bairro Santa Rosa, em Campina Grande do Sul. Ali, em 2008, nasceu o Mercado Panilar — uma mercearia de apenas 70 metros quadrados, erguida com estrutura improvisada, equipamentos simples e sustentada por fé, esforço e o desejo de vencer.”Iniciamos com fé em Deus e coragem pra lutar. A vontade de vencer era tanta que eu nem olhava as dificuldades”, relembra.
A escolha do ponto chegou a ser questionada por muitos. “Teve gente que dizia: ‘Antônio, esse lugar não é ponto pra comércio, é o fim do bairro. Isso não vai dar certo’. Mas eu não dei ouvidos. Dentro de mim, algo dizia: ‘Você está diante de uma obra e não pode parar’. E foi isso que segui.”
Na época, Antônio abriu mão do único carro que possuía, vendendo o veículo para investir na mercearia. Para fazer entregas e buscar mercadorias, contou com a ajuda da irmã, Terezinha Viana, que lhe emprestou um Uno por dois anos — apoio essencial no início da caminhada.
Apesar dos desafios, ele se manteve firme. “Os dois primeiros anos foram uma guerra. Mas nunca pensei em desistir. Eu tinha um objetivo: ter uma loja grande na região.”
Seus dois filhos, Willian Viana e Alexandre Viana, começaram a trabalhar com ele desde cedo. Com o tempo, o bairro evoluiu, e o mercado foi ganhando pequenas reformas. “Eu nunca dei credibilidade às palavras negativas. Dei atenção à minha fé e à minha família, que sempre estiveram comigo.”
Hoje, ao lado da esposa Roseli, ou simplesmente “Rose”, e dos filhos, Antônio comanda um negócio sólido, que se tornou referência em Campina Grande do Sul. Com orgulho, ele guarda uma foto da primeira lojinha, que será emoldurada e colocada na entrada da nova unidade como símbolo de toda a trajetória.
A origem do nome Panilar
O nome Panilar carrega mais do que uma marca — carrega uma memória afetiva da infância. A inspiração veio dos tempos em que Antônio morava no bairro Alto, em Curitiba, e ouvia um amigo repetir todos os dias: “Vamos na Pani?”, referindo-se à panificadora da vizinhança. A palavra “lar” foi adicionada por ele mais tarde, como símbolo de acolhimento, aconchego e pertencimento. Aos dez anos, Antônio fez uma promessa a si mesmo: um dia teria um mercado com esse nome. E ele cumpriu.
Amigo do tempo
Sonhador por natureza, mas com os pés no chão, ele se define como “amigo do tempo”. Levou dez anos para montar a primeira mercearia, visitando o terreno aos domingos só para sonhar. E dedicou quase cinco anos à concretização do projeto da nova loja, amadurecendo cada passo com calma e planejamento.
“Hoje já se passaram 17 anos, e está se tornando realidade o sonho que comecei a sonhar ainda na infância. Sempre fui um sonhador — mas um sonhador com propósito, com metas, com disciplina e com os pés no chão.”
Pra se inspirar
Para quem busca inspiração, Antônio deixa um conselho valioso: “Hoje em dia, com essa pressa da era digital, muita gente quer resultado imediato. Mas empreender exige tempo, paciência e visão. É preciso sonhar alto, sim — mas sempre com os pés no chão.”
Pra finalizar, Antônio faz questão de destacar os princípios que o guiam, tanto na vida quanto nos negócios. “E outra coisa: respeito com o semelhante, honrar com o compromisso e, acima de tudo, honestidade”, conclui.