A Páscoa de 2025 traz desafios significativos à indústria de chocolate por conta do aumento nos preços do cacau, que alcançou US$ 12,5 mil por tonelada. Com quedas de safra na Costa do Marfim, Gana e Brasil, as empresas têm adotado estratégias para não repassar completamente os custos ao consumidor, como a diversificação de produtos com ingredientes como caramelo e nozes. Entretanto, pequenos produtores enfrentam dificuldades adicionais para manter a competitividade.
A Páscoa é considerada a principal data do ano para a indústria de chocolates, gerando uma fatia considerável do faturamento anual em pouco mais de um mês. Em 2025, o setor encara o desafio de equilibrar custos elevados com a manutenção da qualidade e acessibilidade ao consumidor.
No período em que os chocolates desta Páscoa estavam sendo produzidos, o mercado global de cacau vivia um cenário crítico. Costa do Marfim e Gana, que representam 70% da produção mundial, enfrentaram adversidades climáticas, resultando em quedas expressivas nas safras. Isso impulsionou o preço do cacau, que historicamente girava em torno de US$ 3 mil por tonelada, ao pico de US$ 12,5 mil em dezembro de 2024 na Bolsa de Nova York.
No Brasil, a seca e pragas como a vassoura-de-bruxa reduziram a produção nacional de cacau em 18,5% em 2024, totalizando 179.431 toneladas, de acordo com a Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC). Esse contexto contribuiu para o aumento de quase 10% no preço dos ovos de Páscoa neste ano, conforme dados da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
— Chegamos a um momento em que é impossível não repassar um pouco dos custos — afirmou Andresa Silva, gerente executiva da Dengo.
Para atenuar os impactos, estratégias foram traçadas no setor. Segundo Andresa, os preços poderiam estar até 20% mais altos se as empresas não tivessem absorvido parte dos custos. Na Dengo, a diversificação do portfólio foi a solução encontrada, com opções de produtos desde R$ 39,90, abrangendo diferentes formatos e preços.
Na Cacau Show, o planejamento da Páscoa 2025 começou em janeiro do ano anterior, em meio à incerteza gerada pela valorização da commodity. A marca revisou processos para minimizar custos.
— Se a gente repassasse tudo ao consumidor, a comercialização seria inviável — destacou Daniel Roque, vice-presidente da Cacau Show. — Além de reduzir nossa margem de lucro, revisitamos todo o processo de produção, desde a embalagem até o transporte, para tornar os produtos mais acessíveis.
No Brasil, para um produto ser considerado chocolate, ele deve conter ao menos 25% de sólidos de cacau. Embora isso não tenha mudado, as empresas têm explorado receitas com menores teores de cacau, priorizando recheios de frutas e castanhas.
O chocolate gold, que utiliza caramelo, é um dos produtos de destaque da Cacau Show este ano, além dos ovos com pedaços de biscoito, bombons de cereja e recheios de brownie e pistache. Na Dengo, os lançamentos incluem opções como o pralinê de castanha-de-caju, noz-pecã caramelizada e flor de sal, o “brigadengo” com chocolate e caramelo, e o quebra-quebra de chocolate branco com morango.
Para pequenas empresas, como a Therê Chocolates, de Catanduva (SP), a alta do preço do cacau representa um desafio ainda maior.
— Nossos produtos, por serem artesanais, já costumam ser mais caros que os industriais. É difícil manter a competitividade — comentou Monica Munhoz, fundadora da marca e produtora de cacau.