Empresas argentinas têm aproveitado o sistema de pagamento instantâneo Pix no Brasil para atrair turistas, oferecendo cotações abaixo do ‘dólar cartão’. Em apenas duas semanas, mais de 8 milhões de dólares foram transacionados, e o recurso tem desafiado estereótipos ao ser usado em compras de maior valor, como vestuário. Aplicativos como Cocos e Lemon registram crescimento expressivo, enquanto a Prex já conta com 75 mil clientes e aumento significativo nas operações.
A concorrência entre carteiras digitais estendeu-se às cidades brasileiras. Buscando oferecer melhores taxas de câmbio e evitar a sobretaxa de 30% usual no uso de cartões, vários aplicativos argentinos implementaram funcionalidades para que turistas paguem por QR Code ou transferência. Em janeiro de 2023, o volume registrado por essas transações ultrapassou os US$ 8 milhões.
O Brasil se destacou como destino para a expansão das carteiras. Desde o lançamento do Pix, em 2020, pelo Banco Central, o sistema de pagamentos instantâneos se tornou o mais usado no país, superando cartões de crédito e débito. Empresas como Belo, Cocos, Fiwind, Lemon, Plus e Takenos integraram seus serviços ao sistema do Pix, utilizando uma solução oferecida pela KamiPay. Esses aplicativos convertem automaticamente pesos argentinos em reais com uma taxa de câmbio competitiva, geralmente acima do dólar MEP, mas inferior à cotação utilizada pelo ‘dólar cartão’.
Atualmente, o dólar MEP equivale a 1.190 pesos, enquanto a criptomoeda Tether é negociada a 1.219 pesos. Já o dólar cartão, usado em compras internacionais com cartões de crédito, está em torno de 1.380 pesos no Banco Nación. O ticket médio dos argentinos que compraram roupas no Brasil em dezembro de 2022 foi de US$ 77, conforme análise da KamiPay, refletindo no interesse crescente pelo sistema Pix para compras de maior valor. Segundo a fintech, o vestuário foi a principal categoria no último trimestre do ano, representando 37,08% do faturamento, com destaque para marcas como C&A, Adidas, Puma, Nike e Grupo SBF.
Apenas nas duas primeiras semanas de janeiro, a Cocos processou 225.520 pagamentos, com média de 30 mil transações diárias – o equivalente a uma operação a cada três segundos. O volume total chegou a 8,2 bilhões de pesos, cerca de US$ 7 milhões. ‘A Cocos experimentou um crescimento explosivo, refletindo o impacto desta solução inovadora no mercado, abrindo mais de 65 mil novas contas desde a integração do Pix’, informou a empresa.
Florianópolis concentrou o maior número de transações, com volume quase duas vezes superior ao registrado no Rio de Janeiro. A Lemon, que integrou o Pix no início de janeiro, processou pagamentos que somaram US$ 1,2 milhão. Cerca de 80% dos consumidores usaram pesos argentinos para os pagamentos, enquanto 20% optaram por criptodólares. O gasto médio foi de R$ 200 por compra, o equivalente a 40.800 pesos.
Já o aplicativo Takenos movimentou o equivalente a mais de US$ 240 mil no último mês, com maior concentração de gastos em hotelaria (42%), gastronomia (25%), transportes (17%), compras (11%) e despesas diversas (5%). A Fiwind, por sua vez, reportou um milhão de pagamentos via Pix, um aumento de 400% no número de operações em comparação com o mesmo período do ano anterior. A Prex, outra carteira digital, contabilizou 75 mil clientes utilizando o sistema no Brasil, com uma média de 12 transações por usuário e um valor médio de compra de R$ 180 (US$ 37,4) por operação. Na maior parte das vezes, os pagamentos foram realizados em transportes, supermercados e postos de serviços, concentrados principalmente nas cidades de Florianópolis e Rio de Janeiro.